Memória seletiva e a culpa na Tranca: por que só lembramos da “mão ruim”?

Você jogou várias rodadas, venceu algumas, perdeu outras. Mas quando termina a partida e vai comentar com alguém, qual lembrança vem primeiro? Aquela mão impossível, sem pares, sem trincas, que parecia feita sob medida para a derrota. A famosa “mão ruim”.

Na Tranca, como em muitos aspectos da vida, nossa memória é seletiva. E ela adora guardar o que mais nos frustrou. Não importa se em outras rodadas você recebeu cartas excelentes e fez jogadas brilhantes. A mente insiste em destacar aquele momento em que tudo deu errado.

Isso acontece porque somos naturalmente inclinados a procurar explicações para o fracasso. Quando perdemos, buscamos culpados. Às vezes, é o parceiro. Outras vezes, é o baralho. Mas quase sempre, é a tal da mão ruim. Ela vira justificativa perfeita.

O curioso é que essa lembrança carregada de culpa e frustração também molda nosso comportamento futuro. Ficamos mais ansiosos para bater logo o jogo, mais desconfiados das cartas do parceiro, mais impulsivos nas decisões. E, sem perceber, repetimos os erros que tanto criticamos.

Por que não damos o mesmo peso às mãos boas? Por que não nos lembramos com orgulho das vezes em que dominamos a partida? A resposta está na forma como associamos culpa e controle. Quando tudo dá certo, tendemos a ver como “sorte”. Quando dá errado, assumimos que foi “culpa de alguém”.

Na próxima vez que sair da mesa lembrando só do que deu errado, pare por um momento. Relembre também as boas jogadas, os acertos, as viradas inesperadas. A Tranca é feita de altos e baixos. E a sua memória não precisa ficar presa só nos momentos ruins.

Valorize o jogo inteiro. E jogue a culpa fora junto com as cartas velhas.

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